domingo, 22 de dezembro de 2013

Câncer Infantojuvenil

         Nas quatro últimas décadas, a melhoria no tratamento do câncer infantojuvenil foi promissora. Isto se tornou possível devido ao diagnóstico precoce, culminando no aceleramento do tratamento e ampliação das chances de cura dos pacientes. Por apresentar propriedades muito peculiares e origens histopatológicas próprias, de acordo com o livro Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil (2011, p.51), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, “O câncer que acomete crianças e adolescentes deve ser estudado separadamente daqueles que acometem os adultos. Principalmente no que diz respeito ao comportamento clínico”.
         Mesmo com esse constante progresso no desenvolvimento do tratamento do câncer, as taxas de incidência para todos os tipos de câncer infantojuvenil ganhou uma dimensão maior nas últimas décadas, convertendo-se em um evidente problema de saúde pública mundial. O Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil (2011, p.51) ainda diz que o câncer na criança e no adolescente, na faixa etária de 0 a 19 anos, corresponde entre 1% e 3% de todos os tumores malignos na maioria das populações. Em geral, a incidência total de tumores malignos na infância é maior no sexo masculino. Quanto à mortalidade, as últimas informações disponíveis mostram que, no ano de 2009, os óbitos por câncer encontraram-se entre as dez primeiras causas de morte no Brasil, em indivíduos de 1 a 19 anos. Já a partir dos cinco anos, corresponde à primeira causa de morte em meninos e meninas.
         A Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliou que, no ano 2030, é possível esperar que surjam 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17 milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer. Os países de baixa e média renda apresentarão maior efeito desse aumento.
Dados João Pessoa
         De acordo com o livro desenvolvido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), Câncer na Criança e no Adolescente no Brasil (2008, p.98), “Os dados são coletados ativamente em 66 fontes notificadoras: um hospital especializado, um hospital universitário, 16 hospitais gerais, 35 laboratórios de anatomia patológica, três serviços de hematologia, quatro clínicas oncológicas, dois serviços de radioterapia e três de quimioterapia. As declarações de óbito são obtidas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Tabela 1 – População de risco por sexo, segundo faixa etária, para o período de 2000 a 2004
Fonte: MP/Fundação Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Tabela 2 -  Número de casos por tipo de câncer infantojuvenil, segundo a faixa etária, João Pessoa, 2000 a 2004
Fontes: Registros de Base Populacional
            MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
            MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação


Tabela 3 – Distribuição percentual da incidência por tipo de Câncer infantojuvenil, João Pessoa, 2000 a 2004
Fontes: Registros de Base Populacional
            MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
            MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação


         Os registros de incidência e mortalidade do câncer são registrados no próprio hospital onde o indivíduo está sendo tratado. Se o óbito ocorrer fora dos registros médicos será considerado “número perdido” e não entrará nas estatísticas. Esses dados são coletados pelo Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP).

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CARTA: O que é ser voluntário?

  Semana passada, durante uma conversa despretensiosa, sem gravador e sem anotações, perguntei a Edilene Maria, voluntária há 10 anos, o que é ser um voluntário. Queria entender um pouco mais sobre esse gesto gratuito e cheio de amor ao próximo. Edilene contou suas histórias fora e dentro da Donos do Amanhã, porém, mesmo com todas estas histórias, fui embora sem uma resposta.
  No dia seguinte, encontro uma carta, escrita a mão, dirigida a mim.

De: Edilene
Para: Thaís (estudante de jornalismo)
  O que é ser voluntário?
  Acredito que a melhor resposta para esta pergunta é dizer que... Ser voluntário é colocar em prática o Evangelho de Jesus.
  Amar o seu próximo e fazer por ele aquilo que gostaríamos que fizessem conosco.
  É proporcionar àqueles que necessitam de nós tudo de bom e positivo.
  É deixar o amor fluir, nos embriagando na atmosfera do bem, fazendo por onde o bem seja o objeto maior.
  Ser voluntário é compartilhar todos os momentos, mesmo os mais difíceis, nos colocando em comunhão e nos doando por inteiro, sem deixar que as dificuldades e os obstáculos interfiram ou atrapalhem a nossa caminhada.
Vocabulário do Voluntário
Experiências – diversas
Perdas – incalculáveis
Desistir – jamais
Insistir – sempre
Objetivo maior – o amor e a consciência do dever cumprido
  A cada amanhecer, abraçar o seu semelhante como o sol lhe abraça. E ao entardecer, agradecer a Deus a força, coragem e sabedoria de ter tido condições de vencer os obstáculos de mais um dia.
Beijos, Edilene Maria.

  Terminei de ler, respirei fundo e fiquei observando aquele papel por alguns segundos... Tempo suficiente para compreender o valor dessas pessoas que se doam, que tiram do clichê a frase “Fazer o bem sem olhar a quem”. São anônimos como Edilene que me impulsionam a realizar esse projeto. O tratamento hospitalar é de extrema importância, mas o que seria desses pequeninos sem o amor dos que os acolhem? Virei fã.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Vida: O Meio da História

         Em um dos dias mais movimentados da ONG, me vi atribulada. Eu não sabia com quem falar, olhava para aqueles tantos rostos, ouvia aquelas tantas vozes e pensava: dessa vez, eu mesma tenho que encontrar uma história; na vez passada, Estrela que me encontrou. Diante do grande fluxo de pessoas dentro da casa, me dirigi para o lado de fora e vi algumas mães conversando. Me aproximei de uma delas, dona S.A.C.B.
         Como tudo tem começo, meio e fim, com a Vida* não é diferente. Desde que nasceu, Vida vivia doente. A família ia constantemente ao hospital e os médicos diagnosticavam os mais diversos problemas. Quando completou 10 anos, há 8 anos, sentiu uma forte dor de cabeça, “Já no hospital, ela teve convulsão, o medico pediu pra fazer uma tomografia, que acusou Astrocitoma Pilocítico (um tipo de tumor juvenil, na cabeça)”, relatou S.A.C.B. Em busca do tratamento adequado, saíram de Cajazeiras em direção a João Pessoa. “Fomos encaminhadas para a capital e chegando aqui caímos nas mãos de um médico irresponsável, causador de um erro cirúrgico!”, completa indignada. Após seis meses nesse outro hospital, mãe e filha foram para os cuidados do Hospital Napoleão Laureano. Ela passou por uma série de exames. O médico disse, após a ressonância, que teria que fazer uma cirurgia novamente para que o tumor fosse removido por completo.
         Quando perguntei sobre a família, dona S.A.C.B. disse que uns apoiam, outros não, a começar por sua mãe, “Ela acha que eu venho pra cá (João Pessoa) para passear, diz que eu acho bom, que eu gosto de andar. Daí eu falo: Quer ir no meu lugar? Quer trocar a cozinha pelo hospital? Nosso passeio no carro de apoio pra ir pro hospital?”.  Ela ainda completa falando sobre a relação com a Donos do Amanhã, “Aqui é maravilhoso! Somos recebidas com carinho, isso ajuda muito no tratamento dela. Sem essa casa de apoio, o que seria de nós? Ficaríamos na rua. Eu tenho elas (as funcionárias) como se fossem minha família, elas conversam com a gente. É aqui eu procuro o apoio que eu não tenho em casa”.
         “Sempre enfrentei tudo, quando eu vejo que o demônio quer me derrubar, Deus me levanta e eu sigo em frente! Ela passa muita força pra mim, quando estou pra baixo, principalmente quando tem resultado de exame. Ela diz: Mainha, deixe de besteira, é em mim!”, diz S.A.C.B. apressada para pegar suas coisas, o carro que as transporta de Cajazeiras para a capital estava chegando.
         Vida ouve nossa conversa atentamente, calada, sentada numa cadeira em frente a mim, balançando as pernas que não alcançavam o chão.
- Ela é sempre assim, quietinha? – perguntei curiosa, afinal ela se mantinha calada, mesmo sendo o assunto da conversa.
- Que nada! Ela é uma ‘papagaia’! Estuda, faz 6º ano, muito sabida. Todo mundo é doido por ela!
         Não me conformei com o silêncio de Vida e perguntei, diretamente, o que ela achava disso tudo, “Minha mãe se preocupa tanto comigo que fica com dor de cabeça. Tem outras coisas também que ela sente e não liga em se cuidar. Eu brigo com ela! Ela não liga para ela, só quer saber de exame meu.”, mostrando maturidade e um certo conformismo com a situação em que se encontra.
         “Doutora Andrea Gadelha já suspendeu tudo, tá entregue na mão de Deus. Ele é maior! Minha filha já passou por várias coisas, já entrou em coma, já foi dada por morta, médico já pediu pra desligar os aparelhos dela, mas não deixei, se eu fizesse isso eu seria uma criminosa.”, disse dona S.A.C.B. Após seis dias em coma, ela retornou. Vida passou por três cirurgias: a primeira de coágulo, segunda e terceira de tumor, num intervalo de seis meses. Fez radioterapia, todos os tipos de quimioterapia e nada mais resolve, nem mesmo cirurgia. Infelizmente o tumor tomou o cérebro por inteiro, também passando para a coluna.
         Uma história que começou, está no meio e aguarda o fim. Esperar, para nós, significa apenas ficar em algum lugar até que chegue alguém ou alguma coisa, mas para elas é ter esperança, é confiar que dias melhores virão, é esperar por um milagre... O milagre da Vida.

*Nomes de crianças e responsáveis serão preservados

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Estrela: Iluminando meu primeiro dia

FOTO: Thaís Garcia
  Muitas pessoas chegam aos hospitais e centros de apoio com a intenção de consolar as crianças e os adolescentes portadores do câncer, achando que vão encontrar apenas sofrimento e tristeza. E eu quase caí nessa ideia quando, de repente, alguém salta no sofá, abre um sorriso e diz “Oi, meu nome é Estrela*, tenho quatro anos”. E o amor me invadiu.
Depois de conversar e deixá-la mexer nos jogos do meu celular, pedi que Estrela chamasse sua mãe; eu estava ansiosa para conhecê-la. Preparei tudo para ouvir seu depoimento. Estrela que não gostou muito de termos atrapalhado sua diversão em benefício da gravação da entrevista, mas acabou concordando.
Sentando em meu colo e me abraçando forte:
- É claro que eu gosto dela! – disse Estrela, justificando o abraço repentino.
- Mas você nem perguntou meu nome! – retruquei.
- Como é teu nome?
- Thaís.
- Oi,Thaís! Posso jogar agora?
- Agora não, tia promete que, quando terminar, deixa.
- Tá, então podem conversar! – tomou meu caderno e pôs-se a desenhar.
Em fevereiro, dona F.C.A.S descobriu que a filha estava com câncer. Tudo começou com uma febre prolongada. Durante a primeira consulta, a médica suspeitou que fosse infecção intestinal. Na segunda, Estrela já não tinha mais apetite e seu abdômen havia dilatado 17 cm. “Era claro que havia algo errado! A doutora pediu que ela fizesse uma ultrassonografia. Fomos para Cajazeiras.”, disse F.C.A.S., que mora em São José de Piranhas. Nesse momento veio a notícia, Estrela foi diagnosticada com Tumor de Wilms, um tipo de câncer renal. Imediatamente vieram para João Pessoa em busca de tratamento.
         “Tive que me controlar, ela e a irmã, de 11 anos, estavam presentes. Foi um choque muito grande! Quando viemos para João Pessoa, foi tudo rápido. Na mesma semana, Doutora Andréa Gadelha a atendeu.”, contou F.C.A.S. Desde então, mãe e filha vêm a cada vinte dias, de ônibus.
  Perguntei sobre o cabelo curto de F.C.A.S., imaginando que ela teria cortado em solidariedade à filha, como eu havia visto no filme “Uma Prova de Amor (2009)”. Mas, infelizmente, não foi nada disso. Ela está com câncer de mama, descoberto em novembro de 2012. “Depois que surgiu o problema dela, eu continuei o tratamento, mas me preocupava tanto com ela que, às vezes, deixava o meu problema de lado. Coisa de mãe.”, explicou.
  Em meio a toda essa conversa sobre cuidado de mãe com filha e me ouvindo concordar, Estrela pergunta se eu tenho filhos.
- Não, mulher, eu ainda sou novinha! – respondi, na esperança que fosse uma resposta satisfatória
- Nenhunzinho? – perguntou espantada. – E você tem quantos anos?
- Só vinte e dois.
- Vinte e dois? Eu não acredito que você é novinha!
         A recepção inteira caiu na risada.
“Ela é assim o tempo todo; alegre, brincando...”, disse a mãe, ainda sorrindo, quando perguntei se era sempre assim. “Nunca chorei. Mas mesmo confiando em Deus, teve um momento que eu não me contive: vê-la entrando na sala de cirurgia, em abril”, completou. No pós-operatório, a previsão de sair da UTI era para as 14h, porém às 8h Estrela já estava liberada.
  Foi através da pediatria do Hospital Napoleão Laureano que mãe e filha conheceram a Donos do Amanhã. “No começo do tratamento, a gente ficava na casa de uma tia, agora não tem quem a faça querer voltar pra lá! A ONG é uma família, uma benção”. Aproveitando, perguntei como tem sido o apoio da família, ela disse que todo mundo se preocupou com ambas, mas principalmente com Estrela, pois não é normal ver crianças com esse problema na cidade em que moram. “La em São José de Piranhas fizeram uma campanha, sensibilizados por sermos as duas com câncer. Um gesto bem humano”, declara, com brilho nos olhos.
  “Quando crescer quero ser dentista, estilista e doutora. Terminou? Agora eu posso jogar?”. E é assim que Estrela encerra a entrevista.

*Nomes de crianças e responsáveis serão preservados.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Avisa que eu cheguei!

   Meu nome é Thaís Garcia Santana, tenho 22 anos e sou concluinte do curso de Jornalismo, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A partir de hoje, começarei uma série de pequenas matérias baseadas no cotidiano da Associação Donos do Amanhã. Estarei com vocês aqui no blog até fevereiro de 2014, narrando histórias de pessoas que lutam, acolhem e que são, acima de tudo, exemplo para a sociedade. Esta iniciativa faz parte do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que tem como tema “Donos do Amanhã: Humanização do Tratamento do Câncer Infantojuvenil”. 

As crianças diagnosticadas e em fase de tratamento carecem de cuidados especiais não só na parte hospitalar, mas também afetivamente, focados na atenção e no carinho para/com elas. 
  Diante desta situação, foram criados os centros de apoio às pessoas carentes portadoras de câncer, visando colocar à disposição um local onde alimentação, higiene, medicamentos e outras exigências sejam monitorados e facilmente disponibilizados. Essa atitude faz com que, não só o atendimento seja mais humanizado, mas também permite que a criança seja acompanhada e assegurada de que nada lhe faltará durante o tratamento, aumentado assim suas expectativas de cura e vida.
Os centros de apoio são entidade sem fins lucrativos que atuam em diversos segmentos sociais, com a proposta de auxiliar os indivíduos em suas mais variadas necessidades. Estes centros servem, principalmente, como suporte para aqueles que vivem a margem da sociedade.
Na Paraíba, destaco a Associação Donos do Amanhã, que tem como principal objetivo apoiar, acolher e proporcionar condições de tratamento mais humanizadas a crianças e adolescentes portadores de câncer, abrangendo todo Estado. Tendo em vista estes aspectos, trarei para o cenário social atual a realidade de responsáveis, colaboradores e beneficiados, expondo a importância de se ter um tratamento não só clínico, mas também humanizado e digno.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ácido fólico na dieta materna reduz risco de câncer infantil



Redução do número de casos de tumores no rim e no cérebro coincidiu com medida que estimulou o nutriente na alimentação de mulheres em idade fértil

Brócolis

Brócolis é um dos alimentos ricos em ácido fólico (Thinkstock)

A inclusão de ácido fólico na alimentação de mulheres em idade fértil pode reduzir a incidência de câncer de rim e de alguns tipos de tumores cerebrais entre crianças. Essa é a conclusão de um estudo feito na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e publicado na revista Pediatrics.

De acordo com os autores do trabalho, houve uma redução no número de casos de crianças com esses tipos de câncer desde que o governo americano determinou que certos alimentos fossem fortificados com ácido fólico - uma vitamina do complexo B presente em alimentos como brócolis, tomate, cogumelos e feijão. Essa medida foi tomada em 1998 pelo Food and Drug Administration (FDA), agência do governo americano que regula remédios e alimentos, depois de diversos estudos terem indicado que o consumo do nutriente por grávidas reduz risco de defeitos na formação do feto.

Os pesquisadores se basearam em dados de 1986 a 2008 do Programa de Pesquisa, Epidemiologia e Resultados Finais (SEER, na sigla em inglês), do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, e estudaram, desde o nascimento até os quatro anos de idade, as informações de 8.829 crianças que foram diagnosticadas com câncer.

A equipe observou que a taxa de incidência do tipo de câncer de rim mais comum entre crianças aumentou de 1986 a 1997 e diminuiu em seguida, queda que coincidiu com o ano em que a medida do FDA foi colocada em prática. Além disso, o número de casos de um determinado tipo de câncer no cérebro aumentou de 1986 a 1993 e foi reduzido em seguida. De acordo com Kimberly Johnson, uma das autoras do estudo, embora essa mudança não tenha acontecido simultaneamente com a determinação do FDA, em 1998, ela coincidiu com as recomendações do órgão, de 1992, para que mulheres consumissem um mínimo de 400 microgramas de ácido fólico ao dia.

"Nosso estudo é o maior já feito sobre a relação entre ácido fólico e incidência de certos tipos de cânceres infantis", diz Johnson. A pesquisadora observa que esses resultados podem ser um estímulo a outros países que ainda não decidiram se irão exigir fortificação de alimentos com o nutriente.

Brasil — Desde 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou obrigatória a inclusão de ácido fólico nas farinhas de trigo e de milho e em seus subprodutos. A justificativa para a medida foi justamente a redução no risco de má formação do feto comprovada por diversos estudos. O Ministério da Saúde recomenda uma ingestão diária de 200 microgramas de ácido fólico ao dia para adultos e de 100 microgramas para crianças de sete a dez anos de idade. No caso das gestantes, a indicação do MInistério é semelhante à do FDA, ou seja, de 400 microgramas por dia. Uma concha de feijão preto, por exemplo, tem 119 microgramas da vitamina. 

Opinião do especialista
Marcelo Reibscheid
Pediatra do Hospital São Luiz, em São Paulo

"Já era sabido que a redução do número de casos de cânceres de rim e de cérebro entre crianças coincidiu com a medida do FDA. No entanto, esse estudo foi feito com um maior número de indivíduos, dando um embasamento maior à relação. Porém, como foi só uma comparação de dados, não é possível afirmar com certeza que a associação a verdadeira, já que, no período da pesquisa, outros fatores em relação aos cuidados com o bebê e à alimentação das pessoas também mudaram.

O ácido fólico é indicado para diminuir riscos de má formação congênita. Recomenda-se que mulheres tomem suplementos da vitamina 90 dias antes de engravidarem e continuem a ingerir o nutriente durante toda a gravidez, especialmente no primeiro trimestre. Isso não quer dizer que as mulheres que não tomarem a vitamina irão ter bebês com má formação, mas sim que o nutriente diminui o risco de isso ocorrer.

Ou seja, como o consumo do ácido fólico já é recomendado - ao menos nos EUA  e no Brasil - e não apresenta nenhum risco à saúde, essa pesquisa não irá causar mudanças na prática clínica, já que a vitamina já é indicada, mesmo que para outros fins."

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/acido-folico-reduz-risco-de-cancer-infantil-diz-estudo

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Muita fibra contra o câncer




Estudos quentíssimos sugerem que, além de evitar o aparecimento de tumores no intestino, a substância protege a mama, o pâncreas... 

por Thaís Manarini | fotos Alex Silva

À primeira vista, alimentos como goiaba, cebolinha, cenoura, tangerina, soja, arroz integral e aveia não têm nada em comum. Mas, perdoe-nos pelo clichê, as aparências enganam. É que esses itens — e muitos outros — são carregados de fibras, substâncias valiosas. Entre seus feitos estão o estímulo da saciedade, a melhora do funcionamento do intestino e a proteção contra câncer nesse órgão. Agora a ciência acaba de apontar, veja só, que elas também previnem tumores no pâncreas e na mama. No mínimo.

Vem do Colégio Imperial de Londres e da Universidade de Leeds, na Inglaterra, o estudo que associou o consumo de fibras a uma menor incidência de tumores mamários. Para realizá-lo, os pesquisadores esmiuçaram 16 trabalhos sobre o tema. “Notamos que a ingestão diária de 10 gramas de fibras solúveis derruba em 26% o risco de o mal se desenvolver. Ainda não sabemos por que as insolúveis não promoveram o mesmo benefício”, conta Dagfinn Aune, líder do projeto.

Uma das hipóteses levantadas para explicar tal façanha é que as fibras reduziriam o estrogênio que perambula pelo sangue. É que elas prejudicam a ação de uma enzima responsável por quebrar o hormônio para facilitar sua absorção. Assim, boa parte dele vai embora junto com as fezes. Mas há um mistério: “Em pesquisas com cobaias, tanto as fibras solúveis como as insolúveis causaram esse efeito”, pondera a nutricionista oncológica Thais Manfrinato Miola, do Hospital A.C. Camargo, na capital paulista.

Se você está se perguntando por que é importante evitar picos de estrogênio, fique sabendo que ele incita a proliferação das células mamárias, independentemente de serem normais ou cancerosas. “Sabe-se que outros hormônios agem assim, ou seja, estimulam a multiplicação celular. Então, quando eles estão controlados, o risco de desenvolver câncer diminui”, explica Fábio Gomes, nutricionista do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Mais fibras, menos insulina
Só para constar, outro hormônio intimamente relacionado ao câncer de mama é a insulina, responsável por botar a glicose dentro das células. E as fibras dão um jeito nela também. Afinal, retardam o esvaziamento gástrico — em outras palavras, você fica com o estômago cheio por mais tempo —, o que torna a absorção de açúcar mais lenta. Diante disso, não há necessidade de ter um monte de insulina circulando.

E, por falar em barriga bem forrada, está aí outro fator que, indiretamente, é capaz de afastar a ameaça do câncer mamário. É que a obesidade e essa doença caminham lado a lado. Quando a dieta é rica em fibras, fica mais fácil escapar dos ataques à geladeira e, dessa forma, administrar o ponteiro da balança. “Mas, se uma mulher está 40 quilos acima do peso, não adianta só apostar nas fibras. O consumo isolado da substância não contrabalançará todos os outros problemas”, avisa Artur Katz, coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Já no Centro de Referência Oncológico de Aviano, na Itália, os cientistas voltaram suas atenções para a relação entre uma dieta campeã em fibras e o aparecimento de câncer no pâncreas. Para explorá-la, eles avaliaram a dieta de 326 pacientes diagnosticados com a doença e 652 indivíduos saudáveis. Foi quando notaram que o consumo da versão solúvel fez despencar em 60% a probabilidade de tumores surgirem no órgão. A insolúvel, por sua vez, diminuiu o perigo em 50%.

Ao que tudo indica, a partir do momento em que tais substâncias passam a controlar a produção e a liberação desenfreada de insulina, evitam não só o boom de células malignas nas mamas como também no pâncreas. “Isso não está 100% comprovado, mas é uma teoria que ganha força”, avalia Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. “E esse mecanismo provavelmente garante proteção contra vários outros tipos de tumores”, completa Fábio Gomes, do Inca.

Outra explicação plausível para essa blindagem é a capacidade que as fibras têm de aliviar o engarrafamento que muitas vezes atravanca o trânsito intestinal. “Elas não permitem que o organismo tenha tempo de absorver agentes potencialmente cancerígenos. Dessa maneira, os inimigos são rapidamente eliminados”, esclarece a nutricionista Juliana Pereira Lima Gropp, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Ainda que as evidências deem às fibras o troféu de anticancerígenas, Artur Katz pede cautela ao discutir seus efeitos: “Elas podem ser indicadores de outros comportamentos benéficos, já que as pessoas que capricham no seu consumo geralmente seguem um estilo de vida mais saudável, com dieta balanceada e prática de exercícios físicos”.

Sem contar que as substâncias são encontradas em leguminosas, frutas e hortaliças, alimentos abastecidos de uma variedade de compostos considerados aliados no combate a tumores, como quercetina, betacaroteno e licopeno. Portanto, é necessário avançar nas investigações para confirmar se as benesses alardeadas por todos esses estudos são causadas só pelas fibras.

De qualquer forma, sua ingestão é mais do que incentivada pelos especialistas ouvidos nesta reportagem. Nem tem como ser diferente. Afinal, como ficou claro, elas estão alojadas em alimentos de alto valor nutricional — e apostar neles possivelmente freia a procura por itens pouco saudáveis, como os industrializados cheios de gordura e açúcar.

Uma dica: 25g é o consumo diário de fibras considerado ideal pela 
Organização Mundial da Saúde

Ao mexer no cardápio, não se esqueça de molhar a garganta com bastante água, chás e sucos. “O líquido é esssencial para que as fibras solúveis se transformem em gel e as insolúveis formem fezes macias”, informa a nutricionista Michele Trindade, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no interior do Paraná. Só não enrole muito para mudar os hábitos. “A dieta deve ser equilibrada desde cedo para que exerça um papel realmente significativo na batalha contra o câncer”, adverte Paulo Hoff.

Aliadas na perda de peso
Decididamente, quem anseia por conquistar uma silhueta mais elegante não pode deixar as fibras de fora do cardápio. Uma refeição lotada delas demora a ser mastigada e também digerida. Como consequência, a sensação de saciedade dura mais tempo e a vontade maluca de comer não aparece tão cedo. “Além disso, ao caprichar em cereais, leguminosas, raízes e frutas, tende a haver uma redução no consumo de gorduras e açúcares”, lembra a nutricionista Paula Riccioppo, da clínica Be Healthy, no Rio de Janeiro. “Essa mudança contribui tanto para a perda quanto para a manutenção do peso ideal.”

Uma sugestão: para aumentar o consumo diário de fibras, 
salada sempre cai bem antes dos pratos principais

Duas versões da substância

- Solúveis
Ao entrar em contato com a água, elas formam uma espécie de gel, que promove saciedade e ajuda a controlar a presença de glicose no sangue, além de domar o colesterol. Nesse grupo, estão a pectina, a goma e a mucilagem, que dão as caras nas leguminosas, nas frutas e no farelo de aveia.

- Insolúveis
Não são nada viscosas e têm como principal função aumentar o bolo fecal e, assim, melhorar o funcionamento do intestino. Representadas pela celulose e pela lignina, são encontradas na camada externa de grãos e cereais, no farelo de trigo, na casca de frutas e na soja.

 Por que elas não são nutrientes?
A explicação é simples: embora façam parte dos alimentos, as fibras são resistentes à digestão e não são absorvidas no intestino delgado. “É durante a própria passagem pelo trato digestório que interferem no aproveitamento de nutrientes e ajudam no combate a doenças”, diz a nutricionista Michele Trindade, da UEL.

O ranking das fibras
1º Soja - 23,9 g em 1 concha média.
2º Grão-de-bico - 17,3 g em 1 concha média.
3º Ervilha - 13,5 g em 1 concha média.
4º Feijão-carioca - 11,9 g em 1 concha média.
5º Cereal à base de trigo - 11,5 g em 1/2 xícara de chá.
 
Elas estão abrigadas em vários alimentos

- 1 concha média de lentilha - 11,1 g.
- 1 goiaba branca - 10,7 g.
- 1 colher (sobremesa) de cebolinha - 6,4 g.
- 1 mexerica - 4,19 g.
- 1 pera - 3,3 g.
- 1 colher (sopa) de semente de linhaça - 3,3 g.
- 1 colher (sopa) de farelo de trigo - 3,1 g.
- 1 colher (sopa) de abacate - 2,83 g.
- 1 maçã argentina - 2,6 g.
- 1 laranja com membrana - 2,6 g.
- 5 folhas de couve-manteiga - 2,35 g.
- 3 colheres (sopa) de batata-doce cozida - 1,98 g.
- 1 escumadeira de arroz integral - 1,62 g.
- 3 colheres (sopa)de beterraba crua - 1,62 g.
- 1 colher (sopa)de farinha de centeio - 1,5 g.
- 3 colheres (sopa)de mandioca - 1,44 g.
- 1 figo fresco - 1,4 g.
- 1 colher (sopa) de flocos de aveia - 1,37 g.
- 1 fatia de pão de fôrma integral - 1,3 g.
- 1 ameixa-preta seca - 1,2 g.
- 3 colheres (sopa) de cenoura ralada - 1,14 g.
- 3 folhas de alface lisa - 1,05 g.
- 1 colher (sopa) de farelo de aveia - 1,02 g.
- 3 colheres (sopa) de brócolis cozidos - 1 g.
- 1 escumadeira de arroz branco - 0,96 g.

Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0348/nutricao/muita-fibra-cancer-679735.shtml