Desde a primeira vez que fui à Associação Donos do Amanhã, em 2011, não houve um dia sequer que eu não fosse recepcionada com um belo sorriso e uma simpatia sem igual. E, mesmo agora que minhas visitas são semanais, tudo isso continua (e está ainda melhor).
Durante esse período de trabalho, pude perceber que as pessoas que fazem parte dessa causa são muito solícitas, sentem prazer em ajudar. Daí você pensa, “Lógico, né, Thaís?! Você mesma já disse que voluntários são assim!”. Acontece, caro leitor, que, desta vez, não estou falando de voluntários, mas de uma funcionária. Estou falando de quem trabalha todos os dias, o dia todo em prol da causa. Especificamente, estou falando do primeiro rosto que vejo ao entrar na casa da Donos do Amanhã. Hoje, lhes apresento Clara.
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Nome: Maria Clara Costa de Deus Cunha
Idade: 33 anos
Cargo: Atendente
Tempo de Serviço: 3 anos
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Como é a função que você desempenha?
Eu recebo as doações, atendo mães, crianças e doadores, libero cestas básicas,... Entre outras palavras, costumo dizer que onde houver necessidade de fazer faça, mas faça o melhor.
O que é preciso para desempenhar esta função?
Os principais pontos são amor, dedicação, comprometimento naquilo que faz e respeito. Sem esses princípios de nada adianta, pois não é um trabalho, digamos, “teórico”, é humano. Todos os dias recebo pessoas de diversos lugares do Estado, pessoas humildes, sofridas. Claro que a parte prática é importante, mas não é só isso, é preciso ser, acima de tudo, humana.
O que lhe motiva a trabalhar na Donos do Amanhã?
O amor pela vida, vontade e força de caminhar e vencer a doença. Todos os dias quando acordo, venho trabalhar na Donos do Amanhã com perseverança e fé, sabendo que há algo mais precioso: o amor pela vida. Quando vejo a garra diária para que esta instituição permaneça firme e inabalada, eu digo “Eis-me aqui, Senhor, onde me colocastes como soldado”. Por esse projeto, permaneço firme, vestindo esta armadura (aponta para a camisa da ONG) e a minha maior arma é a vontade de fazer o melhor. Levantando essa bandeira, vamos tentar e conseguir, atender e apoiar as crianças e adolescentes, juntamente com suas famílias.
Como é o seu relacionamento com as crianças e adolescentes?
Sou amiga, conselheira, tia, babá, mãe e, às vezes, tudo junto. Estas referências me levam a ouvir e entender que ainda há amor para e com o próximo. É uma prática seguida de uma necessidade de estar presente.
Defina em poucas palavras a importância da Donos do Amanhã no seu dia a dia.
Nas segundas-feiras, a casa fica cheia de diversas crianças e adolescentes, formando uma grande família, necessitando de apoio e atenção. Na faculdade da vida, ou você sai formado em caráter, coração e diversos outros sentimentos que o dia a dia tenta distorcer, ou você para no tempo e não amadurece, como costumo falar, “apodrece”. Esse é um projeto de Deus que se cumpriu, que até tento ver a dimensão, mas não consigo ir tão além, apenas tenho certeza de que é um grande salto na faculdade da minha vida, chamada Donos do Amanhã, especializada na formação de um dom: o combate contra o câncer.
Qual a história mais impactante que já acompanhou? Conte.
São diversas histórias todos os dias, mas posso destacar uma recente de um menino em estado terminal, porém consciente, interno no hospital. Ele pediu aos pais que me chamassem aqui na ONG para vê-lo. Eu fui. Chegando lá, ele começou a dizer que estava com saudades, que me amava e que estava esperando minha visita. Com isso, fiquei surpresa, meu coração disparou. Já falando com dificuldades, ele pediu que eu o abraçasse e pediu à mãe para dormir comigo, para que eu ficasse próxima a ele, respondi que eu não podia, apenas a família é autorizada. Dois dias depois fui novamente visitá-lo. Ouvindo louvores, ele pediu que eu orasse e juntos oramos. O momento mais doloroso foi quando fiquei apenas o observando, deitado naquela cama, e, de repente, ele segurou na minha mão e orou sozinho, “Senhor, entrego meu corpo, a minha alma e o meu espírito”, continuei parada e contive o choro. Fiquei surpresa com o crescimento daquele menino. Ao lado da cama estava a mãe, chorando e agradecendo pelo amor e pelo carinho dedicados ao seu filho. No terceiro dia ele faleceu, deixando uma lição na minha vida: amar o meu próximo sem esperar nada em troca, só seguindo na certeza de que estou no caminho certo.