segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Mãe

         Procurei outro título, mas não encontrei. Essa palavra já carrega sua força, preferi dispensar complementos.
         É sabido que as crianças sofrem com dores físicas e psicológicas do câncer. Mas ainda tenho a impressão de que as mães carregam em dobro essas dores, as potencializam, sentem por elas e pelos filhos. E, de tantas que até hoje conversei, posso dizer que dona S.M.O., de  52 anos, é prova viva disso.
         Residente em Mataraca – PB, cidade fronteira com o Rio Grande do Norte, S.M.O. conviveu durante nove anos com o câncer de seu caçula, sem apoio de nenhum familiar, “Os tempos que meu filho passou foram de muito sofrimento. Quando ele veio (para a capital) se tratar, era muito pequeno, tinha 12 anos, agora está com 21 anos”, conta.
         O filho de S.M.O. era portador de Osteossarcoma, um tipo de tumor maligno dos ossos, frequente em crianças/adolescente e idosos, que tende a se propagar rapidamente para os pulmões e, com menos frequência, para outros órgãos. Foi descoberto um ano e meio depois de uma fratura na perna, resultado de uma queda, “O primeiro médico descobriu, mas não me contou. A enfermeira, chorando ao meu lado, me disse que estava muito grave, que tinha subido para o pulmão”, completa.
         Nesse tempo todo de espera, a perna do jovem foi inchando, as costas estavam necrosando, porque ele não tinha como sair da cama. Então, devido ao agravamento do quadro, sua perna teve que ser amputada, “Antes de amputar a perna, ele sofria, gritava. Eu chorava toda noite, me emociono quando lembro”, chorando, S.M.O. contou com detalhes o processo cirúrgico.
         Atualmente, seu filho está praticamente curado, faltando apenas a última consulta, que será feita ainda este ano. Com a ajuda de uma prótese doada pelo médico, ele ajuda os pedreiros e com o dinheiro que junta, presenteia a mãe. Também vai a Natal – RN para jogar futebol, é goleiro.
         Mesmo com a recuperação do filho, as sequelas continuam. Dona S.M.O. foi a doadora de medula do seu filho e, após a cirurgia, a lesão infeccionou e ela, agora, trata de um caroço decorrente desse quadro. Além disso, vem todas as segundas-feiras para fazer tratamento psicológico, pois, devido aos anos de sofrimento e luta, desenvolveu depressão. 
         “O apoio da associação é muito bom, uma ajuda muito grande. Se não fosse o apoio daqui a gente não tinha como resistir. Aqui temos carinho, alimentação na hora certa, tudo que a gente precisa. Elas (funcionárias e voluntárias) gostam da gente, eu gosto demais delas, umas vão, outras vêm, mas eu vou gostando. Gostei muito de você, que nem as meninas”, disse S.M.O., me deixando emocionada com o carinho instantâneo.
         Mãe e filho sozinhos no mundo, com tantas lutas, tantas vitórias, me fez lembrar as palavras do Papa Francisco I, “Não existe mãe solteira, existe mãe!”

FOTO: Renata Medeiros

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