quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Estrela: Iluminando meu primeiro dia

FOTO: Thaís Garcia
  Muitas pessoas chegam aos hospitais e centros de apoio com a intenção de consolar as crianças e os adolescentes portadores do câncer, achando que vão encontrar apenas sofrimento e tristeza. E eu quase caí nessa ideia quando, de repente, alguém salta no sofá, abre um sorriso e diz “Oi, meu nome é Estrela*, tenho quatro anos”. E o amor me invadiu.
Depois de conversar e deixá-la mexer nos jogos do meu celular, pedi que Estrela chamasse sua mãe; eu estava ansiosa para conhecê-la. Preparei tudo para ouvir seu depoimento. Estrela que não gostou muito de termos atrapalhado sua diversão em benefício da gravação da entrevista, mas acabou concordando.
Sentando em meu colo e me abraçando forte:
- É claro que eu gosto dela! – disse Estrela, justificando o abraço repentino.
- Mas você nem perguntou meu nome! – retruquei.
- Como é teu nome?
- Thaís.
- Oi,Thaís! Posso jogar agora?
- Agora não, tia promete que, quando terminar, deixa.
- Tá, então podem conversar! – tomou meu caderno e pôs-se a desenhar.
Em fevereiro, dona F.C.A.S descobriu que a filha estava com câncer. Tudo começou com uma febre prolongada. Durante a primeira consulta, a médica suspeitou que fosse infecção intestinal. Na segunda, Estrela já não tinha mais apetite e seu abdômen havia dilatado 17 cm. “Era claro que havia algo errado! A doutora pediu que ela fizesse uma ultrassonografia. Fomos para Cajazeiras.”, disse F.C.A.S., que mora em São José de Piranhas. Nesse momento veio a notícia, Estrela foi diagnosticada com Tumor de Wilms, um tipo de câncer renal. Imediatamente vieram para João Pessoa em busca de tratamento.
         “Tive que me controlar, ela e a irmã, de 11 anos, estavam presentes. Foi um choque muito grande! Quando viemos para João Pessoa, foi tudo rápido. Na mesma semana, Doutora Andréa Gadelha a atendeu.”, contou F.C.A.S. Desde então, mãe e filha vêm a cada vinte dias, de ônibus.
  Perguntei sobre o cabelo curto de F.C.A.S., imaginando que ela teria cortado em solidariedade à filha, como eu havia visto no filme “Uma Prova de Amor (2009)”. Mas, infelizmente, não foi nada disso. Ela está com câncer de mama, descoberto em novembro de 2012. “Depois que surgiu o problema dela, eu continuei o tratamento, mas me preocupava tanto com ela que, às vezes, deixava o meu problema de lado. Coisa de mãe.”, explicou.
  Em meio a toda essa conversa sobre cuidado de mãe com filha e me ouvindo concordar, Estrela pergunta se eu tenho filhos.
- Não, mulher, eu ainda sou novinha! – respondi, na esperança que fosse uma resposta satisfatória
- Nenhunzinho? – perguntou espantada. – E você tem quantos anos?
- Só vinte e dois.
- Vinte e dois? Eu não acredito que você é novinha!
         A recepção inteira caiu na risada.
“Ela é assim o tempo todo; alegre, brincando...”, disse a mãe, ainda sorrindo, quando perguntei se era sempre assim. “Nunca chorei. Mas mesmo confiando em Deus, teve um momento que eu não me contive: vê-la entrando na sala de cirurgia, em abril”, completou. No pós-operatório, a previsão de sair da UTI era para as 14h, porém às 8h Estrela já estava liberada.
  Foi através da pediatria do Hospital Napoleão Laureano que mãe e filha conheceram a Donos do Amanhã. “No começo do tratamento, a gente ficava na casa de uma tia, agora não tem quem a faça querer voltar pra lá! A ONG é uma família, uma benção”. Aproveitando, perguntei como tem sido o apoio da família, ela disse que todo mundo se preocupou com ambas, mas principalmente com Estrela, pois não é normal ver crianças com esse problema na cidade em que moram. “La em São José de Piranhas fizeram uma campanha, sensibilizados por sermos as duas com câncer. Um gesto bem humano”, declara, com brilho nos olhos.
  “Quando crescer quero ser dentista, estilista e doutora. Terminou? Agora eu posso jogar?”. E é assim que Estrela encerra a entrevista.

*Nomes de crianças e responsáveis serão preservados.

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