terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Thor: Mais forte do que nunca

         Não sei o que tem em mim, ou veem em mim, que chama tanto a atenção das crianças. Elas me “laçam” de uma forma tão natural... Parece que nos conhecemos de uma vida. Era um dia chuvoso, mas muito apressado. Eu precisava fazer muitas coisas nesse dia, só não planejava fazer entrevistas na Donos do Amanhã. Tive que ir lá somente para deixar uns papéis com Clara e, imediatamente, iria embora, mas fui “laçada” outra vez.
        “Tia!”, escutei baixinho. Era um menino, de aproximadamente três anos, tentando chamar minha atenção para o painel de super-heróis, que fica na entrada da recepção. Olhei em sua direção e sorri, para me certificar de que a “tia” era realmente eu.
- Tia, quem é esse? – apontando com uma mão para o painel, enquanto a outra me puxava pelo braço.
- É o Homem-Aranha! – respondi
- “Homalanha!” – repetiu, com a dificuldade de quem está aprendendo a falar – E esse?
- É o Super-Homem!
- “Supelomi!”
        E assim ele continuou perguntando o nome de todos os personagens e repetindo, do seu jeitinho, a cada resposta minha. Fomos interrompidos. A mãe dele viu nosso entrosamento, depois de já termos repetido os nomes dos heróis umas três vezes, e pediu que ele se apresentasse. Vou chamá-lo de Thor*, fazendo referencia ao super-herói mais falado daquele momento. Recebi um abraço em volta do pescoço, depois fui “trocada” por Dona Bené, voluntária de muitos anos, a quem Thor chama de vovó.
        Aproveitei para conversar com a jovem dona E.Q.P., de 30 anos. Ela, o marido e os três filhos residem em Alhandra – PB. Descobriu que Thor estava com Tumor de Wilms (mesmo câncer de Estrela) quando ele tinha apenas sete meses de vida. “A barriga dele era crescida, estranha. Um dia me incomodei e o levei numa médica, lá em Alhandra mesmo. Ela pediu uma ultrassonografia urgente. Assim que saiu o resultado ela pediu que eu mostrasse a uma médica daqui (João Pessoa). Daí por diante, começou minha luta”, conta. Thor foi operado aos 11 meses.
        Eu insisto em perguntar como as mães ficam quando recebem a notícia, talvez na esperança de uma resposta diferente, mas é compreensivelmente inevitável ouvir a mesma coisa. Com E.Q.P. não foi diferente, “Eu fiquei sem chão, jamais imaginei que ia acontecer comigo”.
         Apesar de ter um marido, morar com ele, a jovem mãe não conta com seu apoio, “Não tenho ajuda de ninguém, só encontrei apoio aqui! Pra ele (o marido) é tudo normal, eu tenho que segurar a barra sozinha, eu e Deus, e assim vou levando. Aqui (na ONG) tudo é bom, parece uma família, melhor do que a que eu tenho em casa”, explica.
        Thor está em manutenção há dois anos e a cada resultado que chega a melhora é evidente.
- Thor vem cá! – chamou dona E.Q.P.
- Vou não! – respondeu com um sorriso sapeca.
- Diga à tia o que você ganhou hoje.
- Nada! – dando uma risada.
- Ele ganhou uma bicicleta – explicou a jovem mãe, olhando para mim.
- Tu ganhou uma bicicleta? – perguntei, num tom de felicidade que parecia que eu era a ganhadora do presente.
- Foooi! E “butô dua ódinha pneu”! – respondeu Thor, com um tom ainda mais feliz que o meu, explicando que puseram duas rodinhas no pneu (traseiro) da bicicleta.
        Muito tímida e com respostas breves, ainda consegui, felizmente, que E.Q.P. contasse esse breve capítulo da história de sua família. Desliguei o gravador e apenas ouvi suas queixas, angústias e também vitórias. Ela me olhou como uma amiga e desabafou seus problemas conjugais e pessoais. Ela só precisava ser ouvida.

*Nomes de crianças e responsáveis serão preservados

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